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01. 10 anos de carreira (e o livro das ajudantes)
sobre escrever muito & expandir universos

Em maio de 2013, eu lancei o meu primeiro livro. Literalmente o meu primeiro livro, porque A Profecia de Mídria foi a primeira história original que eu terminei (depois de anos de rascunhos jogados fora, reescritas e a sensação constante de que eu talvez não soubesse o que estava fazendo). Apesar dos perrengues, eu não me arrependo de nenhuma decisão que tomei nesses 10 anos de carreira. E hoje resolvi falar um pouco sobre isso.
Os Mistérios de Warthia nasceu de uma ideia muito aleatória. Eu sempre fui apaixonada por histórias fantásticas e, nos auge dos meus 11 anos, fazendo maratona de O Senhor dos Anéis todas as tardes, a ideia de contar a história de uma garota com poderes mágicos que precisava salvar o mundo surgiu de repente. E se desenvolveu.
A Serafine foi a minha primeira personagem 100% original. Sim, tinha as personagens das fanfics, mas elas estavam inseridas em contextos e universos que já existiam. A Serafine surgiu do nada. Não tinha inspiração em nada além da minha vontade de escrever uma Escolhida poderosa.
E sim, eu sei que a “jornada do herói” se tornou um plot batido na alta fantasia. Mas, naquela época, eu ainda não tinha tido contato com tantos livros envolvendo esse tipo de trama. E, ainda hoje, eu continuo achando uma ótima maneira de desenvolver aventuras.
A questão é que a Serafine surgiu e, com ela, a necessidade de construir um universo para que fizesse essa história funcionar. E daí nasceu Warthia - que, originalmente, teve dezenas de outros nomes (um dos primeiros foi Heaven, mas graças a todos os deuses cósmicos ficou para trás). Warthia é um mundo só meu. E eu só fui perceber o quanto isso era importante e grandioso muito tempo depois.
Porque criar coisas é muito foda. Personagens, histórias, mundos. É uma sensação boa demais. E toda vez que eu penso nessa quadrilogia, é com muito carinho. Sim, o primeiro livro não é o auge da minha narrativa, mas é o auge da minha narrativa naquela época. E eu tenho muito orgulho disso. Da Denise que, com onze anos, pensou em contar uma história que me trouxe até onde estou hoje. Da Denise que criou a Serafine, o Jarek, a Ývela, o Guillian e dezenas de outros personagens, que construiu um mundo, e me deu liberdade para continuar sendo criativa dez anos depois.

Eu talvez esteja um pouco emocionada ao escrever esse texto, mas é que realmente me bateu aquele momento de contemplação emotiva de “cara, eu escrevi tantos livros desde então”. A Serafine me ajudou a ser criativa. A acreditar no meu potencial. A construir diferentes outras histórias e a ter coragem de continuar colocando elas no mundo.
Porque, quando a gente escreve, é com todo o nosso coração. Nossos surtos, nossa vontade de bater a cabeça na parede, nossas lágrimas, nossas risadas, nossas existências. E é bom demais dividir isso com vocês.
Em dez anos, eu escrevi muito. E, tal qual uma receita, essas histórias foram adicionando experiência em quem eu sou:
4 livros de Os Mistérios de Warthia
4 contos de Os Mistérios de Warthia
2 livros de um apocalipse zumbi
2 contos de um apocalipse zumbi
1 livro de piratas
2 romances contemporâneos
2 contos desses romances contemporâneos
1 livro de bruxas (em parceria com a minha amiga!)
2 contos de super-heróis
1 livro de super-heróis
1 conto natalino
3 contos de terror
1 conto de romance sobrenatural
E é só o começo, porque escrever é sobre continuar criando. E se tem uma coisa que eu aprendi nesse tempo de carreira é que o que mais importa, quando você está contando uma história, é amar o que está sendo contado (mas isso é tema para outra newsletter, porque tenho muito a falar sobre amor & criação).
O Livro das Ajudantes
Acho que Vigilantes e o Multiverso do Caos foi o livro mais difícil que eu já escrevi. Mais até do que o fim da saga Warthia (e esse me fez chorar de raiva e frustração e desespero e tristeza, tudo junto). Porque, com o livro das ajudantes, veio uma expectativa que eu não esperava sentir.
Quando eu escrevi Como arruinar seu dia de folga, a bem verdade, era pra ser só um conto. Tive a ideia pra ele enquanto lia a trilogia Renegados, da Marissa Meyer, e pensei “pô, seria legal se a gente tivesse uma história focando em ajudantes de superpoderosos - mas seria mais legal ainda se elas fossem sáficas!”. E, disso, surgiu a Odete. Porque a personagem sarcástica sempre surge primeiro.

Acabou que eu escrevi Como arruinar seu dia de folga em uma tarde, quase 40 páginas de muita diversão e pouco estresse porque, em 2020, com a pandemia e a incerteza, escrever estava sendo uma provação. E todo mundo gostou tanto desse conto despretensioso que eu pensei: “talvez seja legal trazer as meninas para mais uma aventura” - o que escalonou em Como arruinar sua reputação de vilã.
E foi ali, no segundo conto, enquanto eu desenvolvia a ideia de colocar os dois pontos de vista dividindo a história, que surgiu mais uma ideia: “e se eu expandisse esse universo?”.
“…o mundo é feito de ordem e caos. E, quando os heróis surgiram, os vilões vieram atrás.”
Depois que eu publiquei o segundo conto, recebi muitos pedidos para ver a história das ajudantes em um livro. E percebi que tinha espaço para isso.
O problema foi escrever.
Porque a expectativa é bem diferente. Quando você cria uma história do mais absoluto nada, não tem ninguém esperando por ela. Por mais que você coloque expectativa com alguns comentários a respeito do que está escrevendo, é diferente de ter gente esperando para rever personagens.
Com Os Mistérios de Warthia, o meu medo era do final. Com as ajudantes, o meu medo era tudo.
E se não fosse bom o suficiente? E se não fosse engraçado o bastante? E se eu tivesse bagunçado as personalidades das meninas? E se a história não fizesse sentido?
Isso me acompanhou durante toda. a. escrita. desse. livro.

E apesar de ter sido estressante, também foi um bom exercício de escrita. Porque me ajudou a manter a atenção sobre o que eu estava fazendo. Fez com que eu olhasse para esse livro com mais cuidado (especialmente na revisão, antes de mandar pra leitura beta). E acabou que apesar de todo o sofrimento, hoje eu olho para ele com muito orgulho, e considero uma das minhas melhores histórias.
(Depois de ter ouvido minhas betas comentando que o livro estava ótimo sim e eu que estava sendo paranoica? Sim. Mas é importante ter a opinião sincera de outras pessoas! Eu estava preparada para pedras e tijolos sendo arremessados na minha direção, e nada disso aconteceu).
Criar esse mundo de superpoderosos foi a parte mais prazerosa. O que eu mais achei que me daria medo, que era a expansão do universo, foi o que mais me motivou a seguir em frente com esse livro.
No decorrer desses anos de carreira, eu fiz um montão de cursos sobre worldbuilding (construção de mundo), porque é a parte que mais me interessa nas histórias de fantasia. Os vídeos do Brandon Sanderson sobre esse tema, inclusive, encheram meus olhos e minha cabeça para muita coisa.
Ainda que não estejamos falando de uma alta fantasia, com regras únicas e o big bang de um universo inteiro começando do zero, estamos falando de um mundo que não é igual o nosso. Uma realidade onde pessoas superpoderosas existem com a rotina das pessoas comuns. Então expandir isso daqueles dois contos me animou demais!
Não, esse não vai ser um livro sobre origens, explicações científicas e discussões sobre a existência dos poderes. Eu já deixo esse aviso desde já. É uma aventura sobre duas ajudantes apaixonadas. E o foco está nelas.
Aliás, o que eu mais me desesperei achando que tinha estragado (as personalidades das meninas) foi o que as betas mais elogiaram quando me devolveram o arquivo de leitura. Ou seja: vitórias & vitórias!
No fim das contas, escrever é sobre isso. Tropeçar e aprender, procurar maneiras de aperfeiçoar sua narrativa, encontrar cursos e técnicas que falem com a sua maneira de contar histórias.
Expandir universos literários vem com estudo e cuidado. E eu fico muito feliz em analisar como eu comecei essa carreira (criando um mundo) e como eu continuo desenvolvendo essa carreira nesse mesmo nível (criando outros mundos).
Indicando coisas
Chegou o momento de indicar coisas que estão passando pela minha vida, certo? Já falei sobre escrita, sobre as ajudantes, e agora é hora de indicar!
The Very Secret Society of Irregular Witches roubou o meu coração no último mês, e sempre que eu penso nesse livro, eu sorrio. Sabe aquele tipo de história que é um raio de sol? Estamos falando dela. Se você gostou de A Casa no Mar Cerúleo, vai favoritar esse. Sai aqui no Brasil pela Galera Record em algum momento do ano!
Horizon: Forbidden West é um jogo AAA da Sony (ou seja, só Playstation, por enquanto) que se tornou um xodó. Eu já gostava bastante do primeiro jogo, mas esse ofereceu uma imersão e uma expansão de universo ainda maior. Toda a jogabilidade, desenvolvimento de história e reviravoltas é muito incrível. E explorar esse futuro com dinossauros robóticos e ambiente de sobrevivência é viciante!
Um spoiler
Eu prometi um spoiler a respeito de Vigilantes e o Multiverso do Caos, né? Então lá vai:
O livro vai ser lançado no dia 20 de Maio, na Amazon!
Obrigada pela atenção até aqui, e nos vemos dia 13/05 para mais uma newsletter de aniversário de carreira! Ah, e quem sabe tenha outro spoiler sobre Vigilantes e o Multiverso do Caos nela.
Beijos,
Denise Flaibam.