18. sobre dragon age the veilguard

sim, a newsletter é toda sobre esse jogo

Essa é uma newsletter especial porque nela eu só vou falar sobre a minha experiência jogando Dragon Age The Veilguard. Pra mim, honestamente, esse é o jogo do ano. E se ele perder praquele jogo de incel do Wukong eu nem vou me surpreender porque norte-americano não sabe votar. Revoltas à parte, aqui eu vou falar sobre o que eu achei do quarto jogo da franquia! Com spoilers e sem spoilers. A parte com spoilers vai estar destacada em roxo, não se preocupa. Bora pra Tevinter?

Se você não conhece Dragon Age, essa franquia tomou conta da minha vida desde 2019. Eu já conhecia antes, mas foi uma promoção na PS Store que me fez comprar Inquisition e as 3 DLCs dele. Pensei “por que não, né?” e putz, minha vida mudou. Pra melhor.

Dragon Age é uma série de jogos da empresa Bioware e se passa em Thedas, um mundo mágico com lendas antigas, guardiões que lutam contra uma praga mágica, dragões poderosos, guerras intermináveis, reinos em conflito, magia de sangue, terrores vindos das profundezas da terra. E, claro, aventuras. Começou em Origins, passou pelo segundo jogo que não tem nome, ele é só Dragon Age 2, chegou em Inquisition e, agora, ganhou mais um capítulo com The Veilguard.

Lembrando que a zona de spoilers a partir de agora sempre vai estar destacada em roxo!

Se eu tivesse que fazer uma lista de jogos favoritos, em ordem, seria assim:

  1. Dragon Age Inquisition

  2. Dragon Age 2

  3. Dragon Age Origins

Sim, eu odeio a mecânica de combate do Origins e ele é um jogo mal otimizado que vive crashando e torna difícil JOGAR. Mas ele tem o Alistair e a Morrigan.

E The Veilguard, em que posição ele entra?

Neste exato momento, enquanto escrevo a newsletter, eu encaixaria ali entre o Inquisition e o 2. Eu ainda amo mais o Inquisition porque ele foi o meu primeiro Dragon Age, mas eu achei a experiência do The Veilguard tão legal quanto a do 2.

The Veilguard não é um jogo perfeito. Longe disso. Mas foi o jogo perfeito pra mim. E acho que essa é a beleza dos jogos de Dragon Age. Nenhum deles é o suprassumo da perfeição, e cada pessoa sente esse vínculo especial em relação a um deles. Eles têm diálogos bregas, eles têm mecânicas bagunçadas, eles têm falhas na lore com o passar dos jogos, mas eles são simpáticos.

The Veilguard foi um jogo muito divertido. Eu não notava as horas passando enquanto estava nele, e é esse o meu critério para saber que vai ser um jogo legal. Assim como acontece com um livro ou um filme ou série, se eu afundo por completo na história, se eu me esqueço do mundo para apreciar o que está acontecendo na tela, a mídia em questão foi bem sucedida. Veja bem: eu fiquei uma hora e vinte minutos criando a Rook e a Inquisidora. É uma conta que já diz o quanto eu me diverti.

E eu chorei igual uma desgraçada fazendo a minha Inquisidora. Ela ficou do jeitinho que eu sempre quis que ficasse mas DAI não deixava porque o character creator dele era pavoroso.

E se você tem alguma coisa contra a arte de The Veilguard, eu tenho contra você! Be gone!

Sobre a história de The Veilguard

Eu achei muito legal! Ela é extremamente consequencial de Inquisition e da DLC Trespasser, mas a narrativa faz um excelente conjugado para explicar tudo o que aconteceu, por que aconteceu e como aconteceu. Então se você nunca jogou Dragon Age, pode sim começar por esse. Vai dar pra entender o que está rolando.

Quando você está criando o personagem, o jogo te deixa criar o Inquisidor também. E o fato de o “default” desse jogo ser a Inquisidora Lavellan que teve um relacionamento com o Solas diz muito sobre como os criadores escolheram encarar essa narrativa. O que eu, com meu coraçãozinho Solavellan, achei excelente. Porque, pra mim, o canon de Inquisition é esse. A Lavellan que se apaixonou por um elfo apóstata que, ops, na verdade era um deus disfarçado. Um deus que queria fazer muita merda.

Quando eu chegar na zona de spoilers pra falar de Solavellan vocês vão conseguir ouvir meus gritos e meu choro histérico daí.

Toda a história de The Veilguard é engatilhada pelas escolhas do Solas, mas como a história se desenrola é sua responsabilidade como jogador. Personagens podem morrer (personagens IMPORTANTES podem morrer), dá pra ter final ruim (e é RUIM mesmo). Um jogo básico de escolhas. E eu amei todo o curso dele!

Eu gostei demais da Rook. A, sim, porque eu sempre jogo com personagem feminina. Misândrica gamer. Ela se tornou muito real pra mim bem rápido dentro do jogo. Me lembrou muito a Hawke em Dragon Age 2 porque o problema da Rook é só estar no meio de um monte de problemas. Ela não é a Escolhida, ela não tem poderes especiais. No caso da minha primeira Rook, ela tinha duas espadas curtas, um arco e um sonho: sobreviver enquanto ajuda a salvar o mundo.

E isso deixou o jogo muito interessante. Todos os companions tinham os dilemas e as histórias deles, e todos tinham "alguma coisa especial” acontecendo. Fosse o Davrin com o Assan (e toda a quest de salvar os últimos grifos vivos de Thedas), Emmrich com a necromancia e seu medo da morte, Harding e a situação que está acontecendo por ela ter tocado na adaga mágica, e por aí vai. Todos eles tinham a vibe “os escolhidos” que deixou as dinâmicas muito interessantes porque a Rook, de novo, só estava lá. Ajudando. Sendo engraçadinha (sempre escolha a opção do sorriso maroto). Apoiando eles, lutando por eles, etc.

Eu me apaixonei pela Rook que eu criei para essa primeira experiência no jogo e com certeza vou sentir saudade dela. Catriona de Riva, Corvo de Antiva, Pesadelo do Solas. Foi uma alegria jogar a sua história!

Tem uma explosão de lore, principalmente do povo élfico e do povo anão, e eu fiquei particularmente eufórica por causa disso. Eu sempre joguei com uma elfa. É mais complicado? É. Muito. Mas acho que é o mais interessante justamente pelo desafio. Aqui, ele não é tão complexo quanto em outros jogos (em Inquisition, por exemplo, só o fato de você ser uma elfa no baile na capital tem -10 de aprovação dos convidados!), mas tem seus momentos. E o fato de a sua personagem ter um deus élfico preso à cabeça dela torna tudo mais interessante.

VOCÊ TROCOU FARPAS COM O SOLAS foi o momento em que eu casquei o bico de rir. Imagina ter um deus orgulhoso na sua cabeça e ficar bicando ele que nem uma criança? Eu vivo por esse jogo!

O Solas, aliás, é outro ponto alto do jogo. Não apenas como antagonista, mas como aliado. Sabe o Loki? É ele. Ele se apresenta como o deus das mentiras, da traição e da trapaça - mas depende da história.

Ele é o único que tem informações que podem te ajudar, e está preso no Imaterial. Mas consegue se comunicar com a Rook. Toda a dinâmica entre eles, o Solas entendendo ela, e ela entendendo o Solas, é divertidíssima. E para além das discussões, você entende o personagem. Principalmente se fizer a missão de resgatar todas as lembranças do Solas - FAÇA ISSO. CONFIE EM MIM, POR FAVOR FAÇA ISSO!

E eu amei que mesmo sabendo quem era o Solas - o deus da trapaça e das mentiras! - mesmo ciente de que ele já tinha me traído antes, mesmo conversando e notando os mistérios no que ele me falava, MESMO ASSIM eu escolhi confiar nele. E deu no que deu. Se você sabe, você sabe.

Eu gostei demais de todos os companions do jogo, o que é um marco! Porque eu sempre desgosto de alguém no grupo de personagens que se junta ao protagonista. Todos foram muito legais. Todos tiveram missões MUITO legais. Cada um dos companions está vivendo um dilema particular, como eu disse, e isso move suas histórias. Você os ajuda a fazer escolhas e molda o futuro deles, e constrói uma relação de família conforme a história passa. De estranhos tentando se entender para uma família lutando por uma causa.

TE AMO ASSAN E MANFRED, MEUS FILHOS!

Eu vi alguns comentários a respeito dos buracos no universo e: sim, tem. Muitas coisas não batem, tem conveniência narrativa, tem explicações que não funcionam com os outros jogos. O fato de não haver o Dragon Age Keep (pra você “montar” como está o seu mundo depois de 3 jogos) complica bastante. A narrativa teve que tomar liberdades, canons foram feitos sem a escolha do jogador, e isso vai acabar chateando muita gente. Eu particularmente só me importava com a Inquisidora porque, na minha concepção, a consequência de Inquisition era mais importante para essa história do que a dos outros dois jogos, ainda mais pelo lugar onde The Veilguard se passa. Mas eu entendo quem se chateou.

Num contexto geral, The Veilguard é sim fiel ao que importa. Com seus escorregões, ele ainda entrega o coração do que é uma história de Dragon Age: uma aventura impossível, com personagens queridos e escolhas difíceis.

Aqui, eu vou além: acho que The Veilguard fez o que nenhum outro jogo tinha feito até então que é colocar peso nos sacrifícios. As escolhas do meio pro fim do jogo são realmente difíceis. São excruciantes. Elas podem causar a morte de um personagem querido. Podem colocar a sua personagem em um risco absurdo. Podem causar uma tragédia no final. O tempo todo eu estava vivendo um sentimento de “eles não vão fazer isso, né?” aí o jogo ia lá e fazia. E eu ficava em choque olhando pra minha TV.

Você tem que se colocar na situação e tomar a decisão que parece mais sensata e, ainda assim, talvez não seja o suficiente. O jogo te pune se você não explora, se não interage, se não forma um laço com os personagens e as facções. E eu achei bom, porque é um incentivo a jogar. A explorar. A viver aquela experiência.

Preciso gritar também que a trilha sonora de The Veilguard é uma das melhores! Hans Zimmer e Lorne Balfe não brincaram em serviço e eu agradeço muito aos dois por isso.

O que eu achei do romance

A questão com o ritmo do romance (pelo menos desse primeiro que eu escolhi) foi um pouco… escorregadia. Não que os arcos românticos nos outros jogos tomem muito tempo de tela, mas alguns momentos pareceram rápidos demais, sem um respiro.

Aqui eu vou entrar numa breve zona de spoilers (eles vão estar destacados em roxo), então leia com cuidado

Pra minha primeira Rook, eu escolhi o Davrin. Guardião Cinzento turrão, honrado, badass, querido, maravilhoso, coração de ouro. O começo do romance com ele foi o ápice de uma montanha-russa (os atores de voz estão de parabéns). As interações foram muito legais, a química, as conversas. Foi muito divertido escolher os flertes com o Davrin.

Da metade do jogo pra frente eu queria um pouquinho mais! Mas tá tudo bem porque mesmo com alguns escorregões narrativos, o romance é maravilhoso

Namorem o Davrin. Ele é fabuloso e você já ganha, de brinde, a adoção de um grifo.

Eu sei que eu critiquei o ritmo do romance mas lembra que mencionei ali que o começo é incrível? É INCRÍVEL MESMO. E o Davrin tem uma das melhores missões de companions do jogo, com toda a questão dos grifos.

Quando tem o relacionamento com ele, a coisa fica ainda mais pessoal e mais querida. E é muito divertido quando você faz a Rook maluca, porque o Davrin é um poço de seriedade. Todas as piadinhas dela pra ele geram interações maravilhosas. Apesar de pedir por um encerramento, tem ali uma conversa antes da batalha final que dá pra arrancar até algumas lágrimas de pessoas emotivas demais (eu).

TE AMO, DAVRIN!

Zona de spoilers sobre o final

Eu preciso falar sobre o final! Mais precisamente: eu preciso falar sobre o Solas.

Foi muito engraçado o quanto eu fiquei CHOCADA pela traição dele, já sabendo que ele tinha me traído em Inquisition e com todos os avisos dele de que ele era um deus traidor! Ainda assim, lá estava eu, dando uma chance para o Solas, esperando para ver se ele me surpreendia. Aí ele vai lá, prende a Rook na prisão dos deuses e eu tive a PACHORRA de ficar em choque.

Toda a sequência final é emocionante em níveis de tirar o fôlego. Antes de puxar a última missão, meu coração estava batendo forte no peito. Uma sensação que eu só tive com o final de The Last of Us II. Toda a atmosfera de que “vai dar merda” é muito presente no fim de The Veilguard, e realmente dá merda. Personagens morrem! Eles se sacrificam! E não tem nada que você possa fazer! Porque eles são nobres e lendários e é a única maneira de vencer aqueles deuses ridículos!

EU ME ACABEI DE CHORAR POR CAUSA DA HARDING! ERA ELA OU O DAVRIN E EU NÃO SABIA DISSO ATÉ CHEGAR O MOMENTO DO SACRIFÍCIO E EU PERDER A MELHOR BATEDORA QUE A INQUISIÇÃO JÁ TEVE. E DEPOIS A NEVE! PORQUE EU NÃO TINHA ELO O SUFICIENTE COM ELA, PELAS ESCOLHAS QUE EU FIZ NO JOGO! ELA SE SACRIFICOU PARA DETER A PODRIDÃO E EU PERDI A MINHA NEVE!

A CARTA QUE O SOLAS MANDA PRA INQUISIDORA!

E aí tem o Solas, que é o famoso “Inimigo do meu inimigo”. Apesar de tudo, eu amo ele a ponto de tentar salvá-lo de si mesmo. Foi o que eu selecionei na conversa com a Inquisidora. Foi o que as memórias dele me mostraram. Ele nunca foi um vilão por completo. Quando chega o confronto com o Solas, quando ele pega a adaga e se prepara pra rasgar o Véu, eu fiquei em desespero porque NÃO, você vai ser salvo! E aí a Inquisidora Lavellan aparece com todo o seu coração e o seu perdão, e ainda assim não é suficiente porque a vida dele foi moldada pra desfazer os erros que ele cometeu no passado, e a deusa Mythal aparece pra libertar ele desse fardo que eles construíram juntos e MEU DEUS EU ME ACABEI DE TANTO CHORAR. O Solas QUEBRADO, sem conseguir olhar nos olhos dela. Numa pose tão submissa, tão amedrontada. O DEUS DAS MENTIRAS, DA TRAIÇÃO E DA TRAPAÇA, UM ESPÍRITO DO ORGULHO, se curvando enquanto chorava porque estava livre.

E AÍ A LAVELLAN VAI ATÉ ELE E DIZ QUE TUDO QUE TEM NO CAMINHO DOS DOIS É AMOR, PORQUE ELE ESTÁ LIVRE. ELE PODE COMEÇAR DE NOVO FAZENDO A COISA CERTA. E não é uma redenção, porque ele ainda vai ser punido por isso. Ele vai ficar preso no Imaterial, preso à adaga e ao juramento de não desfazer o Véu. Não vai poder dar ao povo dele o que ele tanto queria. Mas é um começo! E ele não vai estar sozinho. E se você jogou Inquisition sabe que o maior medo do Solas era morrer sozinho. MAS A LAVELLAN ESTÁ ALI POR ELE. SEMPRE VAI ESTAR ALI POR ELE. PORQUE ELA É A SIGYN E ELE É O LOKI E ELES VÃO ATRAVESSAR OS HORRORES JUNTOS.

Quando a Lavellan se ajoelhou para olhar nos olhos dele e dizer que o amor é tudo que tinham eu me acabei (em paralelo à cena com a Mythal em que ele se curva e a deusa olha ele de cima). Quando o Solas e a Lavellan se beijaram eu me acabei. Quando o tema do Lobo Temido tocou de fundo na cena em que Solavellan caminha em direção à fenda do Véu eu me acabei. Eu me acabei.

E sobre o Varric… Eu criei essa teoria em uma das reuniões do grupo. Pensei “nossa, ninguém responde nada que ele fala além da Rook”… E existe essa regra na ficção que se só uma pessoa está vendo a outra pessoa, é bem provável de ela estar morta. E era a verdade. Ele sempre esteve morto e os sinais estavam ali, muito bem disfarçados pela narrativa. Parabéns aos envolvidos, porque conseguia enganar direitinho. Quando a revelação acontece, durante a prisão da Rook no Imaterial, é de uma dor sem tamanho. O Varric tá com a gente desde o 2, e agora não está mais.

O final da Rook, guardiã da adaga que guarda o Véu, é muito simbólico. Eles são a Guarda do Véu, afinal. Heróis de Thedas. Lendas. Com os sacrifícios e a batalha, eles conquistaram a vitória e o mundo está livre de deuses vingativos e da terrível Podridão.

Sabe quando você termina um livro muito bom e sente um vazio na sua vida porque não sabe quando vai viver aquilo de novo? Foi o que eu senti quando terminei Dragon Age The Veilguard. Um vazio. Eu já comecei uma boneca nova e quero explorar tudo que não explorei na primeira run, mas não sei quando vou passar pela euforia que passei com esse jogo. É um vazio bom, uma saudade difícil de descrever.

Só sei que The Veilguard foi tudo que eu queria que fosse. Mesmo com os seus escorregões, ele me entregou uma protagonista incrível, me deu uma resolução pra Solavellan, coadjuvantes inesquecíveis e o que Dragon Age tem de melhor: uma grande aventura.